Ciência e tecnologia

Ciência e tecnologia para construir um novo Brasil

Ciência e tecnologia
Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF
A ciência e tecnologia têm o potencial de desempenhar um papel fundamental na transformação do Brasil, impactando diversas áreas, desde a economia até a qualidade de vida da população, isso ganhou força partir dos aportes alocados pelo atual governo federal na área e as oportunidades que se criaram daí por diante. Pensando nisso, parece relevante elencar algumas maneiras pelas quais a ciência e tecnologia podem ser utilizadas para impulsionar a mudança no país:
1. Educação de Qualidade: Investir em tecnologias educacionais inovadoras pode melhorar a qualidade da educação em todos os níveis. Plataformas online, aulas virtuais, realidade virtual e inteligência artificial podem personalizar o aprendizado e alcançar áreas remotas.
2. Saúde Avançada: Pesquisas biomédicas e a aplicação de tecnologias como a telemedicina podem melhorar o acesso a cuidados de saúde, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, especialmente em áreas carentes de infraestrutura médica.
3. Agricultura Sustentável: A tecnologia pode impulsionar a produtividade agrícola por meio da automação, monitoramento de cultivos, uso de drones e biotecnologia. Isso pode melhorar a segurança alimentar e reduzir os impactos ambientais.
4. Energias Renováveis: Investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para energia solar, eólica, hidrelétrica e outras fontes renováveis pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis e diminuir a emissão de gases de efeito estufa.
5. Indústria 4.0:A adoção de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e automação pode modernizar a indústria, tornando-a mais eficiente e competitiva.
6. Cidades Inteligentes: Utilizar a tecnologia para criar cidades mais inteligentes pode melhorar o planejamento urbano, o gerenciamento de recursos e a qualidade de vida dos cidadãos, abordando questões como mobilidade, segurança e sustentabilidade.
7. Preservação Ambiental: A ciência e tecnologia podem ser usadas para monitorar ecossistemas, prever desastres naturais e desenvolver soluções para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
8. Inovação Empresarial: Incentivar a inovação em empresas, startups e pequenos negócios por meio de políticas de apoio, financiamento e incentivos fiscais pode impulsionar a economia e criar empregos de alta qualidade.
9. Pesquisa Avançada: Investir em pesquisa científica e tecnológica de ponta em áreas como inteligência artificial, biotecnologia, nanotecnologia e outras pode posicionar o Brasil como um líder global em inovação.
10. Acesso à Informação e Inclusão Digital: Garantir que todas as camadas da sociedade tenham acesso à tecnologia e à informação é essencial para evitar desigualdades digitais e promover a inclusão social.
Para que a ciência e tecnologia tenham um impacto positivo no Brasil, é importante haver uma estratégia coordenada entre governos, empresas, instituições de ensino e pesquisa, além de um ambiente favorável à inovação e investimentos, estamos vivendo isso no momento.
Também é crucial considerar os aspectos éticos, sociais e ambientais ao implementar novas tecnologias, para garantir que os benefícios sejam compartilhados de maneira ampla e sustentável.
Arrisco dizer que a Ciência, Tecnologia e Inovação são o que há de mais transversal e estruturante nas políticas públicas de Estado no Brasil do século XXI, o Brasil que surgirá a partir desses investimentos pode e deve ser outro. Nasce um país mais sustentável, desenvolvido, estruturado, democrático, científico, justo, próspero, inovador e moderno.
Levar o que se produz nas universidades para além de seus muros é parte desse esforço coordenado, aumentando o diálogo e a aplicabilidade de ações de pesquisa acadêmicas para mudar a vida das pessoas.
Prof. Dr. Thiago Modenesi
Doutor em Educação
Professor nos Programas de Pós-graduação em
Ciências Farmacêuticas
e Engenharia Biomédica da UFPE
Professor permanente no Mestrado em Gestão Pública
para o Desenvolvimento do Nordeste – MGP
da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Membro do INCT Tec Cis 4.0

Eleições de 2024 trarão uma polarização nunca antes vista no Brasil


Imagem: Internet

Se há um legado do bolsonarismo na política brasileira que veio para ficar é a presença de um segmento claramente de ultra-direita no país. Após o fim da ditadura militar assistimos a retomada gradual do processo democrático eleitoral com uma nuance bastante peculiar: com raríssimas exceções, ninguém gostava de ser categorizado como “direita” ou “ultra-direita”. Pareceu por muito tempo mais aprazível ser localizado no centro, tanto que surge o PSDB para ocupar esse recorte. Mesmo legendas como o extinto PFL e similares tinham seus principais expoentes refratários a pecha de “direitistas”.
Após junho de 2013 assistimos um encadeamento de fatos que dá lugar de fala e permite o surgimento de uma neodireita, com claros traços fascistas, que explora ao máximo a negação da política, do Estado e das forças tradicionais que a disputam. Alocados inicialmente no MBL e no Movimento Vem Pra Rua, acabam por transbordar para outros segmentos da política, inclusive tradicionais, e estes se tornam parte decisiva do caminho que leva ao impeachment da presidente Dilma, ao governo Temer, a condenação e prisão do presidente Lula e a eleição de Bolsonaro para presidente.
E, finalmente, temos em 2018 a materialização disso tudo numa candidatura, com forte presença da pauta de costumes ultra-conservadora, somada a uma visão neoliberal da economia e ataque constantes a democracia. Assim Bolsonaro se elege, e assim ele governa durante 4 anos.
A reeleição de Lula não desmonta esse campo, as ideias da ultra-direita passam a contar com parlamentares em grande quantidade e expressão, são sozinhos 1/5 da Câmara dos Deputados, tem bancada considerável no Senado e nas Assembleias Legislativas, elegeram os governadores dos 3 maiores estados do Brasil, há um campo conservador cristalizado, representado eleitoralmente pelo PL e tendo como satélites o Republicanos e o Novo.
Mesmo numa possível condenação de Bolsonaro que o torne inelegível, esse campo não morre, diversificou seus porta-vozes, ganhou um certo grau de refinamento, mas não abriu mão de suas pautas, continua no diapasão costumes e economia neoliberal, executa isso nos estados da federação em que governa.
Daí vem a eleição para prefeitos e vereadores de 2024, quem já viveu alguns pleitos desses sabe o esforço que as forças locais da política fazem para tentar desnacionalizar a pauta, montar alianças municipais “em defesa da cidade”, que junte esquerda e direita, isso realmente foi viável e existiu em grande parte da Nova República, mas não parece ter o mesmo ambiente para ocorrer na dimensão que tinha nos grandes centros urbanos e capitais, visto o clima de polarização que se instaurou.
Se torna imperioso derrotar nas capitais e grandes cidades do Brasil os que representam Bolsonaro, seu legado e seu campo político, garantir que o movimento iniciado com a eleição do presidente Lula para um terceiro mandato e as mudanças que vem ocorrendo na economia, a retomada de um ambiente democrático e do local de fala do Brasil no mundo vá construindo bases eleitorais mais sólidas, formadas pelos vários partidos e lideranças que compuseram a frente ampla que levou a eleição do petista.
É preciso chamar a responsabilidade cada liderança, cada partido, cada cidadão brasileiro para a importância da disputa que se avizinha, e obviamente não desconhecer as peculiaridades que marcam as eleições nas cidades pelo interior do país, em que os lados da política acabam embotados por contendas paroquiais e que algumas vezes jogam pessoas até progressistas para dentro de partidos que não condizem com suas ideias, mas essa é uma oportunidade também para reorganizar esse tabuleiro, na medida do possível.
2024 marca o meio do mandato do presidente Lula, um momento crucial para construir um apoio mais sólido, e já anuncia o que espera o Brasil e o mundo em 2026, então arregacemos as mangas, encaremos o desafio, e lutemos para por o Brasil de volta nos trilhos da democracia.


Thiago Modenesi

É professor Universitário, Historiador,
Pedagogo e editor na Editora Quadriculando.

A maior vitória em quase 6 meses de governo Lula é o equilíbrio entre os 3 poderes e a sociedade podendo criticar e elogiar livremente. O Brasil voltou.

Foto: CARL DE SOUZA / AFP
Caminhando para o sexto mês assistimos o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva se desenvolvendo, como todo governo o do petista erra, acerta, avança, recua, negocia e enfrenta oposição, críticas e elogios. Como todo governo? Não, não dá para esquecer o que representaram os 4 anos do governo anterior, presidido por Jair Bolsonaro.
Assistimos um país que enfrentou uma pandemia, escalonou mais de 700 mil mortos, e resistiu num ambiente de ameaça constante ao equilíbrio entre os poderes e a democracia em si. O medo imperou, a sensação de insegurança, materializada numa sucessão de bravatas e violências vocalizadas pelo então presidente, que motivaram seus seguidores a irem para as ruas e atacarem a ordem estabelecida marcaram cada dia. Ataques a imprensa, ambientalistas, índios, gays, lésbicas, negros, mulheres, comunistas, esquerda, oposição, católicos e afins estiveram na ordem do dia.
Para Bolsonaro pouco importava a regra do jogo, ele tentou fazer as suas, lutou arduamente para estabelecer uma semi-ditadura, chegou ao limite de trincar a democracia brasileira, em particular no processo eleitoral e no dia da eleição em si.
Então, quando passamos quase 180 dias sem um desrespeito aos 3 poderes constituídos de uma democracia, quando assistimos todo o processo de defesa e ataque normal a um governo numa república de tipo constitucional, respeitando as regras escritas pelos representantes do povo em sua carta magna, não há como não louvar a volta do Brasil aos marcos estabelecidos.
É claro que tem gente que não entendeu. Não perceberam alguns até agora que a esquerda nucleou uma frente amplíssima que ganhou a eleição, a duras penas, mas não construiu a maioria que precisava para governar e desfazer o conjunto de barbaridades perpetradas pelo bolsonarismo, tanto politicamente como socialmente.
Deputados, senadores e governadores ainda representam resquícios de um governo que acabou, cabendo ao novo governo dirigir o país nessa correlação de forças adversa, na busca da construção de uma maioria parlamentar que precisa urgentemente se converter numa maioria social e eleitoral em 2024 e 2026.
Mas não podemos criticar o novo governo? Ele não erra? Claro que podemos criticar e é óbvio que o governo erra, mas um pouco de Lênin e dos seus estudos sobre a real correlação de forças não faz mal a ninguém. O conjunto de ações políticas e sociais que o governo Lula vem desenvolvendo busca retomar o desenvolvimento econômico do Brasil, criar empregos e devolver a dignidade de nosso povo que sofreu tudo que não merecia nos 4 anos de Bolsonaro. O presidente o faz tentando por onde passa envolver forças políticas locais, desarmar palanques e agregar setores produtivos que se iludiram com a pauta ultraconservadora.
Até agora há muito o que comemorar, mas pode ter mais, principalmente se entendermos que o conceito de “frente ampla” não era só para ganhar a eleição, mas sim para governar o país, esse Brasil plural, diverso e belo, que teve a necessidade imperiosa de edificar uma ampla frente eleitoral e social para derrotar a ascensão do fascismo no poder central da nação. O que fizemos não foi qualquer coisa, a vitória que tivemos não foi só eleitoral, foi histórica, impedimos o desmonte da maior democracia da América Latina, a derrota da frente ampla traria consequências para todo o planeta.
É sempre importante lembrar que o todo importa muito mais do que as partes, embora seja formado por elas e estas tenham sim sua relevância relativa, as pautas especificas e localizadas compõe a colcha de retratos que somos. Mas a pauta central, o Brasil, a democracia, a luta por um país justo e soberano contempla todas as pautas especificas e as articula, isso é o que devemos perseguir: o claro entendimento do tamanho da nossa vitória, e a correlação de forças adversa em que ela se deu. Esse é o mundo real, e todo dia precisamos enfrentá-lo em busca de uma nova correlação de forças que leve o Brasil a novos dias de democracia ampla e de felicidade para o nosso povo.

Thiago Modenesi
É professor Universitário, Historiador,
Pedagogo e editor na Editora Quadriculando.

Não há nada novo no novo ensino médio

Foto: Divulgação
A decisão do governo Lula de mexer no Novo Ensino Médio (NEM) vem movimentando o noticiário e o debate sobre o tema nas últimas semanas. Aprovada como a Medida Provisória nº 746 no governo Michel Temer, tramitou de maneira acelerada até virar a Lei 13.415/17, sem nenhum debate com os vários setores que compõe a educação, como professores, estudantes, técnicos e pais. A iniciativa foi contestada e combatida pelas entidades estudantis, sindicais e afins desde o princípio. A Legislação em si veio a ser instituída em meio à pandemia do Covid-19, já no governo Bolsonaro.
Focada apenas numa espécie de empreendedorismo de baixa complexidade, envelopado num enfoque profissionalizante, o NEM retira da grade curricular horas-aula de disciplinas básicas para incluir matérias teoricamente ligadas aos interesses dos estudantes, priorizando as disciplinas de Português e Matemática, e tornando opcional praticamente todo o resto do currículo, cabendo ao aluno eleger o que quer cursar. O novo modelo é obrigatório tanto em escolas públicas quanto privadas.
As mudanças entraram parcialmente em vigor em 2022, o cronograma prevê uma implantação gradual até 2024. É consensual nas entidades que atuam no campo educacional que o Novo Ensino Médio já vem dificultando a gestão escolar, sacrificando trabalhadores da Educação, piorando a qualidade do ensino e prejudicando os estudantes em particular. A partir dessas constatações, se formou uma coalizão contra o Novo Ensino Médio, com vários atos e protestos pelo país. É uma vitória desses movimentos a consulta pública proposta pelo Ministério da Educação sobre o NEM que transcorrerá por 90 dias no primeiro semestre 2023.
Os problemas no NEM são vários, comecemos com o aumento da carga-horária anual de 800 para 1000 horas-aula, de 4 para 7 horas-aula diárias, a medida não tem amparo técnico algum, podendo acarretar uma fadiga escolar e uma sobrecarga em todos que atuam nas escolas, sejam como técnicos ou como professores, inclusive contribuindo para uma maior evasão dos nossos estudantes. A maioria das nossas escolas públicas não possuem infraestrutura para cumprir o proposto no NEM, já que precisariam de mais espaço físico para dar conta do cumprimento dos diferentes itinerários propostos, isso se agrava ainda mais nas cidades pequenas, que possuem uma ou duas escolas, não sendo possível se enquadrarem no formato proposto.
Outra questão, a que me preocupa mais, é a que o novo formato é engessado, mais técnico, o que vai aumentar ainda mais as desigualdades já existentes entre os estudantes que cursam o ensino público e os que o fazem na rede particular de ensino. Os mais pobres seriam as grandes vítimas, caso o NEM siga no formato que está proposto.
Chama a atenção também que a relativização do currículo no que tange as disciplinas mais formativas, isso contribuirá decididamente para formar um cidadão cada vez menos crítico e reflexivo, com o argumento equivocado que a escola deve formar para o trabalho. Ora, ela precisa ajudar o estudante a refletir e compreender criticamente o mundo em que está inserido!
O NEM acaba lembrando muito o que a Ditadura Militar no Brasil fez com a educação, em particular no que diz respeito ao seu enfoque no ensino de tipo profissionalizante. Antes da Ditadura as escolas públicas eram as mais concorridas, disputadas pela população, pelo ensino de qualidade que ofereciam. O regime desmontou isso, precarizando nossas escolas, incentivando o ensino fundamental e médio privado, com as mais variadas medidas legislativas e econômicas, criando uma clivagem social que descambou para a elitização do acesso ao ensino superior.
A educação na Ditadura era pensada na lógica que aos pobres cabia no máximo o Ensino Médio, para tanto incentivaram o fortalecimento de cursos técnicos de cunho prático para a formação de mão de obra barata. As universidades deveriam ser ocupadas pelas elites, e não por todos, ao menos na lógica deles.
O pós-ditadura se empenhou no resgate da escola pública, gratuita e de qualidade, em particular nos dois primeiros governos do presidente Lula. É do período da Constituição de 1988 em diante a definição das verbas constitucionais para a Educação, criação de fundos e dispositivos legais de incentivo as escolas e ao ensino público, escolas em tempo integral, mudanças curriculares, volta do ensino de Filosofia e Sociologia e o piso salarial dos professores.
Para tudo isso acontecer foi e continua sendo essencial a ampla participação de todos os setores que vivem a educação brasileira, de maneira coletiva e democrática, em cada escola, cidade e Estado, inclusive retomando as conferências de educação. Só assim retomaremos a construção de uma real educação pública, gratuita e de qualidade, o NEM não fez e não faz parte disso. Revogação já.
Thiago Modenesi
É professor Universitário, Historiador,
Pedagogo e editor na Editora Quadriculando.
Nikola Ferreira

Políticos como criaturas e não criadores do humor

Nikola Ferreira
Foto: TV Câmara

O recente episódio do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) trouxe à baila vários debates, um parece não ter sido tão percebido pelo grande público. A tentativa de alguns políticos, em particular aqueles oriundos das redes sociais e canais de YouTube, de dialogar com a população através do humor e do escracho não é o que se espera de um parlamentar numa sociedade democrática.
Explico: alguns argumentam que a narrativa cômica e debochada foi marca das críticas feitas historicamente pelos setores em tese “progressistas”, contestadores dos sistemas e governos vigentes, ledo engano. Esse papel foi cumprido por humoristas, chargistas, caricaturistas e jornalistas, eles é que desempenharam e desempenham até o presente magistralmente a função de retratar o político ou o fato político e fazer chacota dele, buscando uma reflexão sobre o mesmo, expondo algo em geral grave de maneira bem humorada à população.
É assim há séculos. Na Europa os jornais sempre ostentaram nas suas charges críticas aos governos, aqui no Brasil também, desde que há imprensa no nosso país os chargistas figuram nas páginas de nossas publicações. No geral, a crítica sempre é feroz, mordaz, algumas vezes considerada excessiva, há os que falam isso do humor francês, por exemplo, que tem como um dos seus porta-vozes marcantes o Charlie Hebdo, mas, mesmo nessa publicação, ela é feita por humoristas, chargistas e jornalistas.
Já o humor de péssimo gosto, construído na lacração, preconceito e tentativa de ridicularizar e dar tom pejorativo a setores minoritários da sociedade que já sofrem recorrentemente com discriminação, é criminoso, tira o político de sua função, viola o seu lugar de fala, fere a Lei e o Código de Ética da Câmara dos Deputados. Não se trata de liberdade de expressão, pois o parlamentar não expressou uma opinião, mas deturpou seu instrumento de fala para uma tentativa fracassada e patética de manifestar seus preconceitos usando de um suposto humor, tendo como público-alvo os que o seguem e admiram, ali não estava um parlamentar, mas sim um pretenso humorista ou stand-up.
As coisas tem seu lugar numa democracia, tudo tem seu papel, isso não é estanque, as pessoas não estão presas a esses papéis, mas espera-se que honrem e respeitem os votos que tiveram. Deputado legisla, humorista faz charge e cartuns criticando políticos, assim é a vida numa sociedade democrática. É célebre a frase de Millôr Fernandes de que “não há humor a favor”, no caso aqui se refere aos políticos e aos governos, mas o humor proferido por parlamentar, contra uma parcela da sociedade que a Constituição obriga a ele e a todos nós respeitarmos, é crime, simples assim, e é passível sim de cassação do mandato.
E quanto a tão propalada liberdade de expressão? Nenhum de nós é plenamente livre, abrimos mão de parte de nossa liberdade quando decidimos viver sob a égide do Estado, com governo, instituições e tudo mais, trocamos isso por segurança e estabilidade, e isso é uma invenção que antecede o capitalismo, mas que tem tudo a ver com ele. A ideia em qualquer Estado democrático é que precisamos nos colocar no lugar dos outros, respeitar e entender que somos parte de um conjunto profundamente diversificado, miscigenado, que reúne milhões de singularidades formando pluralidade.
Ao deputado Nicolas resta cumprir a função que os seus votos o delegaram de maneira altiva, respeitosa e dentro da Lei, se não conseguir pode ser cassado ou renunciar e optar por trabalhar de palhaço em algum circo de seu estado de origem…