Serasa registra primeira queda de inadimplentes de 2023

Segundo o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa, o mês de junho teve 0,63% menos endividados em relação a maio

Foto: Rovena Rosa/ ABR
O Brasil apresentou, no mês de junho, a primeira queda de 2023 no número de pessoas inadimplentes, como mostra o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa. Foram levantados 71,45 milhões de negativados, uma queda de 450 mil pessoas em relação a maio, o que representa uma diminuição de 0,63%.
A última queda foi registrada em dezembro de 2022. Comparado a junho do ano passado, quando os inadimplentes somavam 66,82 milhões de pessoas, houve uma alta. Atualmente, 43,78% dos brasileiros estão endividados e negativados. Quem puxa o valor é a faixa etária de 41 a 60 anos, que representa 34,8%, seguido por aqueles entre 26 e 40 anos, 34,7% do total.
Foi observado, ainda, uma queda no volume total de dívidas, indo de 264,5 milhões em maio, para 262,8 milhões em junho, uma redução de 0,62%. Já o valor total de dívidas teve uma alta de 0,15%, chegando a 346,3 bilhões. O valor médio das dívidas por pessoa ficou em R$ 4.846,15, 0,78% a mais.
O estado com a maior proporção de endividados é o Rio de Janeiro, com 52,8%, com Amapá (52,72%), Amazonas (52,2%), Distrito Federal (52,05%) e Mato Grosso (50,33%) na sequência. O Piauí (36,18%) é o que apresentou a menor proporção.
Segundo o Serasa, a primeira semana do Desenrola Brasil impactou a renegociação das dívidas, com quase 900 mil somente pelos canais da empresa até esta sexta-feira (21/7). A procura foi 80% maior que a média da plataforma Serasa Limpa Nome, o que significa que nem todas as dívidas estão no âmbito do programa do governo federal.
Agência Brasil

Donos de empresas de cobrança, bancos tem menor oferta de renegociação com descontos

 Serasa mostra que bancos e administradoras de cartão de crédito são responsáveis por apenas 15,19% da oferta de renegociação de debitos.

Foto: Divulgação
Donos ou sócios da empresas de cobrança, os grandes bancos brasileiros são as instituições que menos oferecem oportunidades de renegociação de dívidas conforme a edição de maio do Mapa de Inadimplência e Negociações da Serasa, que aponta um total de 71,44 milhões de CPF listadas como responsáveis por R$ 334,51 bilhões de contaas não pagas distribuidos em mais de 216 milhões de operações.
Entretanto, quando se observa as ofertas de renegociação disponiveis, os bancos e administradoras de cartão de crédito são responsáveis por apenas 15,19% superando apenas as empresas de varejo que cobram diretamente. Na prática, quem mais oferece desconto para uma pessoas limpar o nome no Serasa são as empresas de telefonia com 30,91% das ofertas. 
Por outro lado, o Mapa de Inadimplência e Negociações revela que os bancos e administradoras de cartão de crédito são as instituições que mais listam pessoas no Serasa com 31,61% dos inscritos. A seguir, vem as empresas de serviços (21,58%) e, em terceiro, o varejo com 11,27% das dívidas e o mesmo percentual de ofertas de negociação. Ou seja, o varejo oferece formas de o cliente voltar ao consumo no mesmo percentual de cleintes que deixaram de pagar suas contas com ele.
Mas esse não é o comportamento dos bancos e administradoras de cartão de crédito (31,61%) que oferecem metade (15,19%) das oportunidades de o devedor fazer um acordo com desconto. Outra atitude que chama atenção é o comportamento das empresas de contas básicas como água, luz, gás que são donas de 21,58% das dívidas. Esse segmento, por sua vez, oferece maiores oportunidades de acordo onde as telecom têm 30,91% das chances de acordo.
O comportamento de bancos é ainda menos amigável quando se observa que eles controlam as chamadas securitizadoras que são as empresas que têm como negécio comprar as dívidas do bancos e grandes empresas para tentar receber, ao menos, um parte dela.
As securitizadoras oferecem apenas 27,74% de oportunidades de uma negociação com descontos. Essas empresas são as grandes “carregadoras” de contratos não pagos de cartão de crédito e dos bancos que somam 31,61% das dívidas registradas no Serasa.
O estudo do Serasa mostra ainda que 39,62% das ofertas de negociação estão relacionadas a débitos de apenas R$ 50,00 (23,07%) e de até R$ 100,00 (16,55%). Esse quadro aponta para os débitos em empresas de telecon e prestadoras de serviços.
Em sentido contrário, existem apenas 13,90% de ofertas para quem deve até R$ 5.000,00 e só 2,88% para quem deve mais de R$ 5 mil, exatamente o contratos com bancos e cartões de crédito em função das multas e juros de até 500% ao ano que são cobrados de quem não paga suas faturas.
Embora isso não esteja explicitado nas campanhas de renegociação parece claro que as dívidas com bancos e cartão de crédito se tornaram bem lucrativas para as empresas de cobrança.
Esse mercado é chamado de NPL (Non-Performing Loan) que identifica o mercado formado pelas carteiras inadimplentes que cresceu mais de 28% em comparação ao primeiro trimestre de 2022 e acumulou R$ 18 bilhões de recebivéis disponibilizados para venda contra os R$ 14 bilhões de 2022.
O mercado de NPL funciona com a compra de dívidas não pagas por clientes que bancos e administradoras de cartão de crédito consideram (prejuizo) perdas totais nos seus balanços. Leiloadas, elas são vendidas, em média, por 5% do valor de face. O risco é de quem compra, mas pode ser bem lucrativo. 

jcnegocios

Dinheiro

Desenrola Brasil poderá reduzir em até 40% inadimplência no país

Congresso Nacional tem 90 dias para apreciar matéria

Dinheiro
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Márcia Ribeiro não vê a hora de conseguir limpar seu nome. A auxiliar de serviços gerais de 55 anos tem dívidas com cartão de crédito e com crediários em lojas há vários anos e, com o nome negativado em cadastros de inadimplência, não consegue comprar vários itens necessários para a sua casa.
“É muito ruim a pessoa querer comprar uma coisa e não poder porque está com um débito atrasado. Queria comprar umas coisas para a minha casa, que fazem falta e eu não posso comprar por causa dessas dívidas: um armário, um fogão. Agora, eu fiz uma dívida com uma televisão e um guarda-roupas, mas foi no cartão do meu irmão. Se eu tivesse pago minhas contas, eu teria comprado no meu cartão”, revela.
Márcia espera poder participar do Desenrola Brasil, o Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas de Pessoas Físicas Inadimplentes, lançado nessa terça-feira (6) pelo governo federal, em Brasília. “Vai ser um adianto pra mim, porque eu vou liquidar minhas dívidas e vou poder comprar minhas coisas que estou querendo comprar pra minha casa”, conta.
A Medida Provisória (MP) 1.176/2023, que institui o programa, foi publicada no Diário Oficial de terça-feira (6) e tem efeitos imediatos. Mas, para se tornar lei, precisará ser votada e aprovada pelo Congresso Nacional em até 90 dias.
O Desenrola Brasil pretende juntar devedores e credores a fim de que a dívida possa ser renegociada e a situação de inadimplência encerrada. Serão duas faixas. Na primeira, pessoas que ganham até dois salários mínimos ou quem esteja inscrito no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal – e que foram negativas até 31 de dezembro de 2022 – poderão saldar suas dívidas de até R$ 5 mil.

Prazo

O pagamento poderá ser à vista ou parcelado em até 60 meses, com desconto e juros mais baixos. O dinheiro para pagar as dívidas pode ser obtido através de empréstimo com uma instituição financeira, o qual poderá ser garantido pelo Fundo de Garantia de Operações (FGO), do governo federal.
A segunda faixa, segundo o Ministério da Fazenda, é destinada somente a pessoas com dívidas no banco, que poderá oferecer a seus clientes a possibilidade de renegociação de forma direta. Essas operações não terão a garantia do Fundo FGO.
Segundo o Ministério da Fazenda, o programa funcionará através de um leilão reverso entre credores, organizado por categoria de crédito, onde quem oferecer mais desconto será contemplado no programa, apresentará a dívida com desconto para renegociar com as pessoas físicas e contará com a garantia de que sua dívida será saldada.
Já aqueles que oferecerem menos desconto ficarão de fora do programa. Por isso, é possível que o devedor não encontre todas suas dívidas para renegociar no Desenrola.

Especialistas

O diretor de Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Henrique Lian, considera o programa “de extrema relevância no atual contexto de superendividamento de expressiva parcela da população brasileira”.
Para a economista Carla Beni, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a medida é importante para que as pessoas com renda mais baixa possam “voltar a respirar e até poder voltar a consumir”. “A inadimplência dificulta muito a vida da pessoa, inclusive afeta até a saúde mental”, afirma.
Ela acredita que o programa poderá reduzir em até 40% a inadimplência no país, que hoje atinge 66,08 milhões de pessoas, ou 40,6% dos brasileiros adultos, segundo dados divulgados em maio pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Carla destaca, no entanto, que será importante pensar em campanhas para garantir a adesão dos devedores ao programa.
“Vai precisar de orientação e muita campanha de divulgação, porque você precisará de um celular e tudo vai ser feito online. É preciso aguardar os próximos passos para ver como vai ser feita a utilização do aplicativo, como isso vai ser inserido na plataforma e como vai ser a facilidade da adesão. Como temos uma experiência com o Pix e o Brasil teve uma adesão espetacular, acredito que a gente tenha não só uma condição técnica e tecnológica, como a adesão da própria população [ao novo programa]. Ela já está acostumada a usar o celular”, salienta.

Consumo

Izis Ferreira, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), acredita que o programa poderá dar um impulso no consumo das famílias brasileiras.
“O crédito funciona hoje como importante condicionante do consumo, não só de produtos que precisam de prazo para pagamento, de maior valor agregado, mas até produtos do dia a dia e serviços que são consumidos de forma imediata. Então, o crédito hoje é um suporte para o consumo de produtos de primeira necessidade e de maior valor agregado”, destaca.
Por meio de nota, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou que o programa está em linha com as tratativas feitas nos últimos meses entre a instituição e o governo federal.
“Quando entrar em operação, os bancos darão sua contribuição para que o Desenrola reduza o número de consumidores negativados e ajude milhões de cidadãos a diminuírem suas dívidas”, diz nota da Febraban.
Na avaliação de Ione Amorim, coordenadora de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a urgência com que o Desenrola Brasil foi lançado é importante, mas faltou um pouco mais de diálogo com a sociedade civil. E, por isso, há algumas dúvidas sobre o programa.
Ela questiona, por exemplo, como o consumidor que recorrer ao Desenrola Brasil será tratado pela instituição financeira no futuro. “Hoje, quando a gente tem um desconto muito grande [num banco], esse consumidor fica com uma restrição lá dentro daquela instituição, se ele vai tentar de novo um crédito”, opina.

Descontos

Outro ponto destacado por ela é sobre o valor dos descontos. “Essa população de baixa renda é extremamente assediada por empresas que oferecem crédito extremamente predatórios [com taxas de juros muito altas]. Então, qual o valor desses contratos que serão objeto desse acordo? O valor integral já incluindo as taxas de juros abusivas? Quando você fala do desconto, e não tem parâmetro, qual é o referencial?”, pergunta.
Para além do programa, uma causa de preocupação para Ione refere-se a futuras dívidas que podem voltar a envolver o consumidor depois que o programa for encerrado, em dezembro deste ano.
“Esse consumidor, sem nenhum preparo, que foi assediado [para contrair o crédito], continua refém dos mesmos tipos de abordagem. É muito provável que parte desse público, até chegar dezembro, que é o limite desse programa, ele estará de novo com uma série de dívidas. Uma parcela muito grande desse segmento, que ganha até dois salários mínimos, é de aposentados e pensionistas, que são muito expostos à questão do crédito consignado”, alerta Ione.
Ione disse esperar que a regulamentação a ser feita pelo Ministério da Fazenda e a apreciação da matéria pelo Congresso Nacional abram espaço para mais diálogo com as entidades de defesa do consumidor.
Henrique Lian, da Proteste, disse acreditar que o programa poderá ser, futuramente, complementado “com ações de natureza regulatória e educativa com vistas à prevenção da insolvência recorrente.”
A preocupação é a mesma de Izis Ferreira. Para ela, caso não haja um programa de educação financeira para as famílias, há o risco de a inadimplência continuar sendo um problema cíclico no país, com períodos de melhora e outros de piora.
Segundo a CNC, em maio deste ano, a quantidade de pessoas com dívidas há mais de 90 dias representou 45,7% dos inadimplentes. Essa é a maior taxa para um mês em três anos e vem crescendo desde dezembro de 2022 (43,9%).
“O crédito ganhou relevância no pós-pandemia como condicionante do consumo. As pessoas estão concentrando muito gasto no cartão de crédito. Diante desse contexto, a preocupação que a gente tem que ter é: a gente vai resgatar esse consumidor da inadimplência, mas depois será que ele vai entender que precisa ter um pouco mais de cautela, programação e planejamento ao usar o crédito? Ao mesmo tempo que o credor faz a renegociação, ele tem que, forma intensiva, estimular a conscientização financeira desse consumidor. Senão, a gente vai continuar vendo esse ciclo de inadimplência”, afirma a economista.
Antes da edição da MP do Desenrola Brasil, a CNC estimava que o percentual de famílias com dívida há mais de 90 dias só cairia no final do dia, fechando 2023 em 44,5%. Com o lançamento do programa, no entanto, a confederação fará uma nova previsão.

Inadimplência

Segundo Izis Ferreira, apesar de o programa ser focado mais no público de renda mais baixa, a inadimplência tem crescido também na classe média. Por isso, para ela seria importante estimular a renegociação de dívidas também para essa faixa de renda.
Para aqueles que têm dificuldade em manter o orçamento sob controle, a economista Carla Beni tem duas dicas: a primeira é conversar com todos os membros da família para que se entenda até quanto pode ser gasto sem comprometer a renda. A segunda é anotar – numa planilha de computador ou mesmo numa folha de papel – todas as contas que precisam ser pagas.
“As pessoas deveriam conversar mais dentro das famílias sobre suas contas a pagar e suas dívidas”, explica Carla. “E também fazer uma lista das contas a pagar. Um simples papel com caneta ajuda muito a colocar – nos meses futuros – todas as contas que aquela família tem para pagar que já estão comprometidas. Isso pode até ser colocado na porta da geladeira. Isso ajuda com que a família toda caminhe no mesmo sentido, porque a redução das dívidas traz um alívio, um conforto e uma qualidade de vida para todos da casa”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, na terça-feira (6), que o Desenrola terá um segmento de educação financeira. Na segunda-feira (5), Haddad havia dito que o programa deverá entrar em vigor em julho.
Agência Brasil