Em entrevista à TV Globo, uma das mulheres que denunciaram ter sido vítimas de estupro dá detalhes do que sofreu durante entrevista de emprego
O suspeito de estupro era funcionário de uma empresa que presta serviços de vigilância no aeroporto. Ele foi desligado após as denúncias serem registradas na Delegacia de Boa Viagem.
A mulher, cujo nome está sendo preservado, relatou que o recrutador mostrou que tinha uma arma no pênis, mandou ela colocar um canivete entre os seios e baixou a calça dela. O suspeito argumentou que a ação era necessária para simular uma revista íntima para identificação de drogas em passageiras.
“Ele, literalmente, baixou minha calça. Eu não tive reação, não sabia o que fazer naquele momento. Eu fiquei congelada. Eu entrei em choque. Eu sabia que ele tinha me mostrado uma arma, tinha um canivete ali, naquele local, a porta estava trancada. Quando ele baixou a minha calça, foi muito rápido. Minha calça era folgada, então ele ‘ingeriu’ o dedo na minha parte íntima, me molestou totalmente, abusou com os dedos. Não tive como me defender porque não tive ação”, relatou a vítima em entrevista à TV Globo.
O caso aconteceu em 29 de junho deste ano. Além dessa vítima, outras duas procuraram a delegacia no dia seguinte para relatar os abusos sexuais sofridos. Uma quarta mulher, segundo advogados, também registrou queixa contra o recrutador, que chegou a ser detido e liberado porque já havia passado o tempo do flagrante.
A vaga seria para inspetor de segurança. Elas ficaram sabendo dessa vaga através de outros candidatos que participaram da seletiva. Individualmente elas foram entrando na sala do recrutador e foram violentadas. A pretexto de mostrar procedimentos, de como seria a atividade laboral na empresa, ele se aproveitou para abusar as vítimas”, disse o advogado Anderson Amorim.
VÍTIMAS TERIAM SOFRIDO AMEAÇAS
A vítima relatou que, após o estupro, o recrutador disse que o que tinha acontecido na sala teria que ficar em sigilo.
“Ele pegou meu currículo e disse: ‘Eu sei onde você mora, eu tenho até o seu número. Inclusive, vou agora mesmo adicionar ele na minha agenda telefônica. Então, ele abriu a porta. Mais uma vez, lá fora, ele disse: ‘Eu espero que o que aconteceu fique aqui'”, contou a mulher.
Em nota, a Polícia Civil fez um apelo para que outras possíveis vítimas procurem a Delegacia de Boa Viagem para registrarem queixa contra o suspeito. A delegacia fica na Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, nº 4420.
O delegado Augusto de Castro, responsável pelo inquérito, informou que não tem autorização para conceder entrevista sobre o estupro no aeroporto, mas confirmou que deveria encerrar o caso nesta sexta-feira (7).
PEDIDO DE INDENIZAÇÃO NA JUSTIÇA
As mulheres devem entrar na Justiça para pedir uma indenização à empresa onde o suspeito trabalhava.
“A gente entende que é necessário adotar medidas tanto no âmbito criminal quanto no cível, a título indenizatório, em face da empresa, tendo em vista que o fato aconteceu dentro da empresa. Também estão sendo estudadas medidas no âmbito cível contra o agressor”, afirmou o advogado José Albérico Santos.
Os advogados das vítimas também pretendem entrar com ação, em caráter liminar, para que a empresa pague o tratamento psicológico para elas.
O QUE DIZ O AEROPORTO DO RECIFE SOBRE O CASO DE ESTUPRO?
A Aena Brasil, responsável pela administração do aeroporto, afirmou, em nota, que tomou conhecimento do caso na manhã do dia 30 de junho e “exigiu o afastamento imediato do denunciado. Soubemos que logo em seguida, que o mesmo já foi detido pela polícia”, disse.
Por já ter passado o prazo do flagrante, o suspeito prestou depoimento e foi liberado.
“A concessionária repudia qualquer gesto de violência, e não tolera nenhum ato desse tipo. O fato está ainda em investigação pela polícia, com quem estamos colaborando para que o caso seja elucidado o mais rápido possível”, declarou a Aena Brasil.
O QUE DIZ A EMPRESA?
A GPS Predial Sistemas de Segurança Ltda. informou, também em nota, que, “tomou as medidas necessárias, incluindo o desligamento do funcionário envolvido”.
ESTATÍSTICAS DE ESTUPRO EM PERNAMBUCO
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 1.048 casos de estupro foram somados entre 1º de janeiro e 30 de maio de 2023 em Pernambuco.
Já no mesmo período do ano passado, o número de ocorrências foi 1.092. A queda foi de 4,03%.
Jornal do Comercio