Especialistas comentam exposição da divergência entre o governador de São Paulo e o ex-presidente na reunião do PL horas antes da votação da Reforma Tributária
Foto: Marina Uezima |
Tarcísio de Freitas não foi o único governador aliado de Jair Bolsonaro que não obedeceu a orientação do ex-presidente de votar contra a Reforma Tributária, mas ficou parecendo. Ciente desde a campanha eleitoral da necessidade de se equilibrar no elástico campo que vai do centro à extrema direita, Cláudio Castro também foi defensor da PEC aprovada na noite de quinta-feira, mas não caiu na cilada de participar do encontro filmado em vídeo com a bancada do PL onde a cisão Tarcísio e Bolsonaro ficou exposta para todo o Brasil.
Afinal, se distanciar do padrinho político e alçar voo próprio após a decisão pela inelegibilidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é uma estratégia correta para o governador de São Paulo? Quem mexe com pesquisas eleitorais concorda que a posição favorável à reforma é correta do ponto de vista do mérito da proposta, mas diverge sobre o impacto eleitoral de olho nas eleições de 2026.
Mauro Paulino, comentarista da Globonews e ex-diretor do Datafolha, acha correto o movimento. Pensa que o governador de São Paulo emergiu como “protagonista da conciliação” e dividiu espaço com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira.
— Acho que mais ganhou do que perdeu. Tarcísio precisa se viabilizar como líder da direita que se divide entre moderados (em ascensão) e bolsonaristas (em declínio). É verdade que perdeu prestígio com a direita extremista, mas ela é a grande derrotada do momento. Terá apenas que suportar a campanha de difamação.
Maurício Moura, professor da Universidade George Washington e fundador do Ideia Big Data, pondera que ainda é cedo para saber o impacto, mas acha que o cenário brasileiro pode repetir o americano, após a derrota de Donald Trump nas eleições de 2020 contra Joe Biden.
— A experiência de acompanhar o Trump mostrou que todos os republicanos que entraram em rota de colisão com o ex-presidente saíram menores. Acho que o Tarcísio vai viver o mesmo dilema dos republicanos nos EUA.
Tanto Felipe Nunes, fundador da Quaest, quanto Antonio Lavareda, do Ipespe, lembram do ex-governador de São Paulo, João Doria, que viu sua popularidade desabar após romper com o ex-presidente na pandemia da Covid-19.
— Politicamente Tarcísio abalou sua imagem no bolsonarismo, mas ganhou o centro. Ou seja, com Bolsonaro elegível diria que teria sido uma derrota para ele. Mas sem o ex-presidente no jogo, a direita vai acabar no colo dele lá na frente. De qualquer forma, ele terá que passar pelo purgatório para não virar Dória ou Wilson Witzel — diz Nunes.
Lavareda considera que o episódio pode ter assinalado o início do afastamento entre os dois e que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, pode tentar ser o “escolhido” de Bolsonaro para 2026.
— Tarcísio ficou entre a cruz e a caldeirinha. Ou acompanhar Bolsonaro numa “ideological trip” de antemão fadada ao insucesso ou mostrar-se sintonizado com as forças produtivas do país, cujo epicentro é São Paulo. Como engenheiro, certamente fez o cálculo do custo-benefício do movimento. Pode ser o nascimento do novo líder da centro-direita “normal”, sem cacoete antissistema.
Agência o Globo