Javier Milei

Candidato a presidente da Argentina critica principais parceiros comerciais e o Papa Francisco

Javier Milei ataca China, Brasil e o pontífice argentino, em entrevista polêmica levanta dúvidas sobre a visita Papa.

Javier Milei
Foto: EFE/Gala Abramovich
O candidato à presidência da Argentina, Javier Milei, que lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições que ocorrerão em dois turnos nos dias 22 de outubro e 19 de novembro, tem causado polêmica ao recusar relações com a China e o Brasil, principais parceiros comerciais do país, alegando que são governados por “comunistas”. Além disso, Milei dirigiu críticas ao papa Francisco, também argentino, acusando-o de ter afinidade com “comunistas assassinos” e de estar ao lado das “ditaduras sangrentas” de Cuba e Venezuela.
Em uma entrevista no X (antigo Twitter) ao ex-apresentador da rede de televisão direitista americana Fox, Tucker Carlson, Milei fez as declarações controversas, que geraram reações de diversos setores da sociedade argentina. Vários padres argentinos defenderam o papa Francisco e consideraram os ataques como um indício de que Milei não possui equilíbrio emocional para governar o país.
As críticas de Milei também levaram a Santa Sé a colocar em dúvida a planejada visita de Francisco à Argentina no próximo ano. O cardeal Víctor Manuel “Tucho” Fernández, que dirige o Dicastério da Doctrina da Fé do Vaticano, declarou: “Seguramente o papa não irá a um lugar onde não o convidem, onde possam usar sua visita para conveniências políticas ou onde as autoridades desprezem sua presença.”
Além das críticas ao papa Francisco, o potencial ministro da Economia em um governo Milei, Emilio Ocampo, também causou controvérsia ao atacar o herói da independência argentina, José de San Martín, nas redes sociais, denunciando o “mito sanmartiniano”. Ocampo, defensor da dolarização da Argentina, acusou San Martín de ter recebido instruções do governo britânico para conduzir a campanha militar que levou à independência.
Historiadores contestam veementemente essa versão, destacando que Bartolomé Mitre, que Ocampo menciona como o criador de um personagem fictício em relação a San Martín, não possui respaldo histórico para essa afirmação. A polêmica em torno desses comentários demonstra o debate intenso que envolve a política argentina neste período eleitoral.
Javier Milei candidato a presidente da Argentina

O perigo vem da Argentina

Javier Milei candidato a presidente da Argentina
Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP
O processo eleitoral da Argentina tem uma diferença crucial do nosso, desde o governo de Nestor Kirchner se estabeleceu as “Paso”, uma primária de voto obrigatório para escolher os candidatos à presidência daquele país. Javier Milei despontou nas prévias liderando, algo preocupante, mesmo sendo por uma pequena margem que mostra o processo dividido quase por igual entre os 3 principais candidatos.
Fruto do desgosto do eleitorado argentino com os políticos tradicionais, o polêmico e exageradamente caricato candidato da ultradireita se apresenta como uma alternativa outsider, se autointitulando “anarcocapitalista” e mantendo relações com a família Bolsonaro e outros exponentes mundiais do fascismo contemporâneo.
Ao longo da sua trajetória, foi consolidando seu dito projeto libertário, um conceito nascido na esquerda e, mais recentemente, absorvido pela direita, que consiste em abolir todos os limites da vida em sociedade. Milei propõe dolarizar a economia, e acabar com o Banco Central, uma maquete do prédio de Buenos Aires já foi explodida durante um evento de sua pré-campanha. Flerta com a pauta liberal, propondo diminuição de ministérios e privatização da educação e da saúde argentina, o que levaria a nação aos patamares de primeiro mundo, segundo o candidato. Pura ilusão…
O pós-prévias tem sinalizado uma possível desidratação de Milei, somado a um processo de mobilização da direita e da esquerda argentina, que lutam para isolar e circunscrever a um tamanho diminuto a fera que saiu do casulo. O que se passa no país vizinho não é um fato isolado, surgem nomes com características similares em vários países latino-americanos, a exemplo do Peru, Chile e Equador, ainda não expressivos eleitoralmente, mas possíveis catalizadores do descontentamento do eleitorado com os políticos tradicionais, tanto a esquerda quanto a direita.
Tudo isso aumenta a responsabilidade de governar, mas também de entender o que é mesmo gerir o Estado nos marcos do capitalismo do século XXI, com países economicamente fragilizados no pós-pandemia da Covid-19, uma guerra interminável entre Ucrânia e Rússia e todo o processo de espoliação e concentração de renda, marca do regime em que estão inseridas as principais economias do mundo.
Quando as forças progressistas assumem esses países o fazem com a responsabilidade redobrada, com o desafio da retomada da economia, da distribuição de renda e do emprego, além da consolidação dos marcos democráticos dos Estados nacionais. Tudo isso precisando ser feito numa correlação de forças adversa, vide o caso do Brasil, em que o parlamento tem maioria conservadora, e dentro das amarras de um capitalismo carcomido e que opera cada vez na perspectiva da concentração e não da distribuição de renda e retirada de direitos da maioria da população.
Daí a necessidade de somar criatividade com ações de internacionalização que dialoguem com as principais economias do mundo, ajudando os países menores ou menos pujantes da economia e estabelecendo negócios com os principais atores fora do eixo tradicional dos EUA, mas com ele também.
Os Brics ampliados são parte disso, a cúpula que ocorreu em Cuba durante esse setembro também, mas há de se buscar mais celeridade e capilaridade no combate a ultradireita no mundo, essa ameaça a democracia, a economia e ao próprio planeta. Precisa ser o inimigo em comum de todos os democratas, das eleições municipais que se avizinham, do trabalho de organização e conscientização em cada comunidade, cada bairro popular, até as eleições presidenciais de cada nação do mundo.
A Argentina é o exemplo mais recente do que a possível vitória dessas forças podem representar mundialmente, nós que vivemos isso no Brasil sabemos, fomos reféns durante quatro anos de uma agenda que atrasou em décadas a defesa do meio ambiente, da luta contra o desmatamento, dos direitos humanos, da democracia, saúde e educação. Isso afetou os brasileiros, mas também nossos vizinhos mais próximos, e até alguns mais distantes.
Derrotar Javier Milei é tarefa do povo argentino, mas não só. É tarefa dos democratas e patriotas do mundo todo. Lutemos para esmagar o ovo da serpente antes que seja chocado.
Prof. Dr. Thiago Modenesi
Doutor em Educação
Professor nos Programas de Pós-graduação em
Ciências Farmacêuticas
e Engenharia Biomédica da UFPE
Professor permanente no Mestrado em Gestão Pública
para o Desenvolvimento do Nordeste – MGP
da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Membro do INCT Tec Cis 4.0
Casa Rosada

Argentina e FMI chegam a ‘acordo inicial’ sobre renegociação de dívida

Espera-se que o tratado seja concluído nos próximos dias para avançar com o programa de empréstimos da Argentina

Casa Rosada
Foto: REUTERS/Agustin Marcarian
O Ministério da Economia da Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciaram neste domingo (23, que suas equipes chegaram a um “acordo inicial” sobre renegociação da dívida do país.
“As equipes do Ministério da Economia e do Banco Central da República Argentina (BCRA) e o corpo técnico do FMI concluíram os aspectos centrais do trabalho técnico da próxima revisão”, informou o ministério argentino, por meio do Twitter.
“O referido acordo visa consolidar a ordem fiscal e fortalecer as reservas, reconhecendo o forte impacto da seca, os prejuízos às exportações e às receitas fiscais do país.”
Segundo a autoridade, espera-se que o acordo seja concluído nos próximos dias para avançar com o programa de empréstimos da Argentina.
As negociações ocorrem em um momento no qual o país sofre com índices extremamente elevados de inflação, reservas internacionais escassas e desvalorização acentuada do peso argentino, enquanto o governo e o BCRA implementam medidas para tentar regularizar a economia e a dívida pública argentina.
A Argentina fechou um acordo com o FMI ainda no governo de Mauricio Macri, em 2018, no valor de US$ 50 bilhões, em razão de dificuldades fiscais.
Em março de 2022, o presidente Alberto Fernández fez uma renegociação deste acordo com o fundo, no valor de US$ 45 bilhões.
No início de julho, sem reservas líquidas em dólares e também devendo a investidores privados, a Argentina negociou com o FMI o pagamento de todas as suas parcelas de julho.
A medida é prevista nos acordos com o FMI e por isso não é considerado um atraso, mas aponta a dificuldade do governo em obter mais dinheiro em meio à crise econômica.
CNN Brasil