Garantia de refrigeração só pedindo Uber Comfort ou 99 Comfort. Nas outras categorias não.
Com a crise econômica pós pandemia, a categoria Uber e 99 Sem Ar-condicionado foi oficializada pelos motoristas parceiros sem que as plataformas intervenham – Foto:Divulgação |
Muita gente já deve ter passado pela situação de chamar um aplicativo de transporte, como Uber e 99, e ser atendida por um motorista que não liga o ar-condicionado do veículo. Virou hábito nas cidades brasileiras, inclusive nas que o calor é predominante em quase todas as épocas do ano, como o Recife.
A pandemia de covid-19 forçou o desligamento da refrigeração por determinação sanitária e muitos motoristas parceiros foram incorporando o hábito. Com a crise econômica – refletida na decadência do serviço de transporte por aplicativo no País, com carros velhos e a explosão do uso da motocicleta, como Uber e 99 Moto -, a categoria Uber e 99 Sem Ar-condicionado foi oficializada.
Não são todos os motoristas – é preciso ressaltar que muitos usam a refrigeração também pelo bem-estar e higiene pessoais -, mas está sendo cada vez mais comum o serviço ser prestado por motoristas que se negam a ligar o ar-condicionado quando estão com passageiros.
O argumento de sempre é: garantia de refrigeração só pedindo Uber Comfort ou 99 Comfort. Nas outras categorias não. O ar-condicionado só é ligado se o motorista-parceiro quiser.
“Isso é um absurdo. Sabemos das dificuldades que os motoristas têm enfrentado, mas não existe em lugar algum que o serviço de Uber seria sem refrigeração. Ao contrário. Quem não lembra do conforto anunciado em 2015, quando a Uber chegava ao Brasil?”, reclama à Coluna Mobilidade a professora Cláudia Maria Menezes, que usa os apps pelo menos três vezes por semana.
“E a prática de não ligar a refrigeração é tão inadequada para o serviço prestado que muitos motoristas usam o ar. Ou ligam quando pedimos. Isso nem deveria estar acontecendo. Uber X, por exemplo, sempre foi um serviço ofertado com ar-condicionado. Ainda mais num País violento como o nosso. Andar com os vidros dos veículos abertos representa risco de assalto e furto”, acrescenta.
Reclamações e mais reclamações por causa do desligamento do ar-condicionado
O universitário Carlos Henrique é outro usuário fiel do serviço de aplicativo que procurou a Coluna Mobilidade indignado com a oficialização do desconforto. E, principalmente, com a omissão das plataformas, já que não existe uma informação clara sobre o desligamento do ar-condicionado.
“É muito complicado andar sem refrigeração num Uber ou 99 às 11h ou 12h no Recife. É muito desconfortável. E o que percebe é que as plataformas simplesmente transferiram o problema para que passageiros e motoristas se entendam. É péssimo”, critica.
“Eu já cancelei algumas corridas porque o motorista não quis ligar o ar – mesmo o veículo tendo o equipamento – e, ao pedir o reembolso da Uber, fui atendido. Justifiquei que cancelei porque o motorista não quis ligar o ar e pronto”, conta.
Nas redes sociais, as críticas dos passageiros ao desligamento da refrigeração têm sido frequentes, principalmente nas cidades quentes, como Recife (PE), Belém (PA), Teresina (PI) e Rio de Janeiro (RJ).
A explosão dos serviços de Uber e 99 Moto tem contibuído para dificultar ainda mais a lucratividade dos motoristas parceiros que usam automóveis – Foto:Guga Matos/Jc |
O que dizem as plataformas uber e 99 sobre o desligamento do ar-condicionado
O sentimento de abandono que o universitário Carlos Henrique cita, de fato, se confirma. As plataformas simplesmente deixam que passageiros e motoristas se entendam sozinhos, dando razão e permitindo o cancelamento da viagem pelos dois lados.
Mas, ao mesmo tempo, garantam que o ar-condicionado é item exigido para cadastro dos veículos na plataforma. “O ar-condicionado faz parte dos requisitos para o cadastro de automóveis na plataforma, em todas as modalidades. Entretanto, não existe obrigatoriedade nem proibição, por parte da Uber, de seu uso durante as viagens”, afirma, por nota, a Uber.
“A temperatura do veículo, assim como outros aspectos como rádio/música, fazem parte das preferências de viagem que podem ser combinadas mutuamente entre o motorista parceiro e o usuário para uma viagem confortável para todos”, segue.
“Tanto o parceiro quanto o usuário podem cancelar a viagem caso não se sintam confortáveis com alguma situação, e também contamos com o sistema de avaliação mútua em que a experiência ao final de cada viagem pode ser avaliada tanto pelo motorista como pelo usuário, com o objetivo de tornar as viagens cada vez melhores para toda a comunidade”.
E faz referência à origem da prática de desligar o ar: “Durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19, especificamente, a Uber implementou uma política de segurança, baseada nas orientações da Organização Mundial da Saúde, que recomenda a abertura das janelas do carro para melhor ventilação durante as viagens”, finaliza.
A 99 foi na mesma linha, afirmando que o ar-condicionado voltou a poder ser utilizado nas viagens, mas que o uso deve ser acertado entre motoristas e passageiros:
“A 99 informa que segue todas as determinações das autoridades brasileiras voltadas para o transporte individual privado por aplicativo. Portanto, desde a publicação da resolução que revogou a obrigação do uso das janelas abertas, o ar-condicionado pode ser utilizado nas corridas”.
A companhia ressalta que segurança é uma prioridade e que segue investindo em ações contra a Covid-19, orientando passageiros e motoristas a adotarem medidas de proteção.
A utilização ou não do ar-condicionado deve ser combinada entre motorista parceiro e passageiro para que a viagem ocorra de forma confortável para ambos. A empresa reforça que o bom senso, respeito, empatia e gentileza são fundamentais para que a experiência do passageiro e do motorista parceiro seja a melhor possível.
Após a viagem, tanto os condutores quanto passageiros são incentivados a avaliar suas corridas, podendo registrar eventuais ocorrências. Mais orientações estão disponíveis no Guia da Comunidade 99”.
Mas vale lembrar que a pandemia de covid-19 acabou e o calor só aumenta nas cidades brasileiras.
Motoristas alegam dificuldades para obter renda
Do outro lado, os motoristas parceiros alegam que não conseguem rodar e ter uma renda suficiente se ligarem o ar-condicionado nas corridas mais baratas. Principalmente aqueles que circulam com veículos a gasolina ou álcool. Também reclamam das taxas cobradas pelas plataformas, que podem chegar a 40% do valor da viagem.