Marielle Franco

Ex-policial delata participação de grupo liderado por bicheiro em assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes

Delator Élcio Queiroz revela detalhes do crime e aponta envolvimento de Bernardo Bello no caso.

Marielle Franco
Foto: Renan Olaz/CMRJ
Em uma revelação bombástica, o ex-policial militar do Rio de Janeiro, Élcio Vieira de Queiroz, por meio de uma delação premiada, implicou o grupo liderado pelo contraventor Bernardo Bello no assassinato brutal da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes. A delação de Queiroz levou à deflagração de uma operação da Polícia Federal (PF) para investigar o caso Marielle.
Segundo as informações fornecidas por Queiroz, o ex-policial Ronnie Lessa, apontado pelas investigações como o assassino de Marielle e Anderson, foi supostamente contratado por Edimilson Oliveira da Silva, também conhecido como “Macalé”, um policial militar já falecido. O delator ainda revelou que a arma utilizada no crime foi desviada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a chamada “tropa de elite” da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Em depoimentos adicionais, Élcio Queiroz mencionou a aparição de um celular para Ronnie Lessa, o que lhe causou estranheza. O celular era um smartphone “feio” e teria sido fornecido por Bernardo Bello, chefe da segurança do bicheiro, José Carlos Roque Barboza, teria fornecido o carro Cobalt utilizado no dia do assassinato.
Élcio Queiroz, que foi expulso das fileiras da corporação em 2015 por envolvimento com segurança ilegal em uma casa de jogos de azar, é o primeiro envolvido nos assassinatos a admitir sua coparticipação no crime. Em março de 2019, tanto ele quanto Ronnie Lessa foram presos, e após quatro anos na prisão, Queiroz decidiu fazer a delação premiada, na qual confessou dirigir o veículo usado na execução e participar de todo o planejamento do atentado.

Quem é o bicheiro Bernardo Bello

Bernardo Bello Pimentel Barboza, de 41 anos, é o líder de um grupo contraventor e uma figura controversa. Em janeiro de 2022, ele chegou a ser preso em Bogotá, na Colômbia, por supostamente ordenar o assassinato de Alcebíades Paes Garcia, conhecido como Bid, que seria seu concorrente no Rio de Janeiro. No entanto, Bello foi posteriormente solto por decisão da Justiça após acolherem um habeas corpus em seu favor.
Atualmente, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) tentam prendê-lo desde novembro de 2023. De acordo com informações do Disque-Denúncia, Bernardo Bello é procurado por três crimes, e teria assumido uma posição de liderança no jogo do bicho após romper com a família Garcia em uma ascensão marcada por violência.
Recentemente, a Promotoria fluminense deflagrou a operação “Às de Ouros II” com o objetivo de prender Bernardo Bello e outros cinco investigados ligados a ele pelo assassinato do advogado Carlos Daniel Ferreira Dias, ocorrido em maio de 2022, em Niterói. As investigações apontam que o crime ocorreu devido a um conflito mediado pelo advogado envolvendo uma empresa do ramo alimentício, desagradando Bello.
As delações de Élcio Queiroz trazem novas e importantes informações para a investigação do caso Marielle Franco e Anderson Gomes, fornecendo pistas relevantes para a elucidação desse crime que chocou o país.

Militar preso em operação disse que sabe quem mandou matar Marielle

PF investiga fraude em cartões de vacina e captou conversa

Foto: Reprodução
O militar da reserva do Exército Ailton Barros, preso nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal (PF) na operação sobre cartões de vacina fraudados, disse que sabe quem mandou matar a vereadora Marielle Franco. O crime ocorreu em 2018. A afirmação de Barros foi feita durante uma conversa entre o militar e o então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, também preso na operação.
Em uma das conversas que foram captadas com autorização judicial pelos investigadores, Ailton Barros citou o nome do ex-vereador do Rio de Janeiro Marcelo Siciliano, eximindo-o de responsabilidade no assassinato de Marielle e Anderson Gomes, motorista da vereadora na noite do crime.
Ao justificar que o ex-vereador não tem relação com o caso e que teria sido alvo de perseguição política, Barros citou que sabe quem foi o responsável pelo assassinato de Marielle. “Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou. Sei a p**** toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí”, afirmou.
A fala sobre o assassinato foi captada aleatoriamente pela polícia e deve ser investigada no inquérito específico sobre o caso Marielle.
Em 14 de março de 2018, Marielle Franco e Anderson Gomes foram baleados dentro do carro em que transitavam na região central do Rio de Janeiro. Há duas investigações em curso. A primeira apura quem são os mandantes dos assassinatos. Em outro processo sobre investigação, o policial militar reformado Ronnie Lessa deve ser levado a júri popular. Ele é acusado de ser um dos executores do assassinato.
Siciliano foi alvo de busca e apreensão na manhã desta quarta-feira. O nome dele foi envolvido na investigação sobre o assassinato de Marielle e Anderson por uma pessoa que se identificou como testemunha, mas que retirou as acusações posteriormente.

Cartões de vacina

De acordo com o relato da Polícia Federal (PF) na Operação Venire, Cid articulou a emissão de cartões falsos de vacinação para covid-19. Primeiro para sua esposa, Gabriela Santiago Cid, e suas duas filhas, e depois para o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua filha, menor de idade.
O ex-vereador, segundo Barros, teria intermediado a inserção de dados falsos no sistema do SUS para beneficiar a esposa de Cid, Gabriela Santiago Cid.
Na avaliação dos investigadores da PF, Ailton Barros solicitou que, em troca da ajuda com os cartões de vacina, Cid intermediasse um encontro de Siciliano com o cônsul dos Estados Unidos para resolver um problema com o visto do ex-vereador devido ao seu suposto envolvimento no caso Marielle.
A Agência Brasil não conseguiu contato com a defesa de Ailton Barros.
Agência Brasil