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Gastos da Câmara dos Deputados com aluguel de carros aumentam em 2023

Deputados gastaram mais de R$ 19 milhões em aluguel de carros e R$ 916 mil em voos particulares

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Foto: Reprodução/Tv Globo
Um levantamento realizado pelo Metrópoles revelou que a Câmara dos Deputados gastou mais de R$ 19 milhões com aluguel de carros para os parlamentares da Casa no ano de 2023. Os dados foram coletados a partir das informações disponibilizadas pela Casa desde o início do ano até o dia 4 de setembro.
O destaque desse gasto milionário recai sobre o período de fevereiro a maio, no qual os deputados já gastaram 20% a mais em comparação ao mesmo período de 2022. Além disso, um dado alarmante é que sete deputados ultrapassaram o limite do teto de gastos mensais, estipulado em R$ 12.713, em todos os meses analisados. Os parlamentares em questão são André Figueiredo (PDT-CE), Eduardo da Fonte (PP-PE), Helio Lopes (PL-RJ), Mário Negromonte (PP-BA), Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), Pedro Campos (PSB-PE) e Rodrigo de Castro (União-MG).
Mário Negromonte, um dos deputados que excederam o limite, defendeu-se afirmando que “o valor da locação está totalmente dentro do praticado no mercado”, em nota publicada.
É importante destacar que os gastos com aluguel de veículos costumam incluir despesas com combustível, contratação de seguro e, em alguns casos, a contratação de motoristas, que são cobradas na cota parlamentar.
Além dos altos gastos com aluguel de carros, os deputados federais também utilizaram verbas públicas para custear viagens particulares de jatinho e outros transportes aéreos no primeiro semestre de 2023.
De acordo com o Metrópoles, entre fevereiro e junho deste ano, os parlamentares gastaram pelo menos R$ 916 mil de verba pública com a locação ou fretamento de aeronaves. Essas viagens são financiadas por meio da cota para o exercício da atividade parlamentar (Ceap), um subsídio mensal destinado a cobrir despesas relacionadas ao mandato, como transporte, alimentação e segurança.
Apesar de terem o direito de fretar essas aeronaves, os parlamentares também podem utilizar as verbas públicas para viagens comerciais. As despesas relacionadas aos voos foram registradas como notas fiscais fornecidas pelos próprios deputados à Câmara dos Deputados e identificadas como “locação ou fretamento de aeronaves”.
O deputado Sidney Leite (PSD-AM) lidera a lista de maiores gastos, tendo declarado R$ 157.700 destinados ao aluguel de aeronaves. Em segundo lugar está a deputada Átila Lins (PSD-AM), que gastou R$ 131.560 com fretamento ou locação de aeronaves. A deputada Antônia Lúcia (Republicanos-AC) aparece em terceiro lugar, com R$ 113.250 em despesas. Em seguida, vêm os deputados Florentino Neto (PT-PI), com R$ 71 mil, e Yuri do Paredão (PL-CE), com R$ 60 mil em despesas.
A Câmara dos Deputados estabelece um prazo de até 90 dias para que os parlamentares declarem a documentação que comprove esses gastos. Após a declaração, os valores das notas fiscais são debitados da cota mensal do deputado, que recebe reembolso referente ao uso da verba.
Lula e Bolsonaro

Genial/Quaest: Para 43% dos Deputados, Governo Lula é Melhor que Bolsonaro

Pesquisa revela opiniões divergentes entre parlamentares sobre as gestões de Lula e Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro
Foto: Divulgação
Uma nova pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada nesta quinta-feira (10/8), lança luz sobre a percepção dos deputados federais em relação aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. O estudo demonstra que 43% dos parlamentares acreditam que o terceiro mandato de Lula tem se mostrado mais eficaz do que o governo de seu antecessor, Bolsonaro, enquanto 36% têm uma visão contrária.
A pesquisa, conduzida no período de 13 de junho a 6 de agosto, entrevistou 185 deputados federais, representando cerca de 36% do total de parlamentares na Câmara. Com uma margem de erro de 4.8 pontos percentuais para mais ou para menos, os resultados revelam a diversidade de opiniões dentro do cenário político.
A avaliação positiva do governo Lula entre os deputados federais se alinha, em certa medida, com a percepção da população. De acordo com a pesquisa Genial/Quaest realizada em junho, 49% dos eleitores consideram a gestão atual superior à gestão anterior. Em contrapartida, 34% dos eleitores veem o governo Lula como pior do que o governo Bolsonaro, enquanto 11% percebem igualdade de desempenho entre ambos. Um total de 6% dos eleitores não soube opinar ou optou por não responder à pergunta na época.
A pesquisa também destaca que 12% dos deputados acreditam que as duas gestões estão em pé de igualdade, enquanto 8% preferiram não se posicionar ou não tiveram resposta. Esse panorama ressalta as complexidades do ambiente político atual, onde a interpretação dos feitos e desafios de cada governo varia amplamente entre os legisladores.
André Fernandes, Júlia Zanatta e Carlos Jordy

Barraco no WhatsApp do PL: saiba quem são os deputados que participaram da discussão

Parlamentares entraram em um bate-boca acalorado no grupo da bancada

André Fernandes, Júlia Zanatta e Carlos Jordy
Foto: Divulgação/ Câmara dos Deputados
Um racha na bancada do PL na Câmara dos Deputados em função do resultado da votação da Reforma Tributária levou integrates a baterem boca no Whatsapp nesse domingo (9). A intensa troca de xingamentos e cobranças movimentou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e integrantes que votaram a favor da medida na Casa. Desde o fim de semana, o grupo chegou a ser bloqueado duas vezes pelo líder da bancada, o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ).
A discussão começou quando aliados de Bolsonaro, que compõem a maioria dos integrantes do PL na Câmara, começaram a fazer cobranças à ala do Centrão dentro da legenda que votou a favor da Reforma Tributária, indo de encontro com o alinhamento majoritário. Na votação em primeiro turno da proposta que muda o sistema de impostos do país, realizada na última quinta-feira, a sigla deu 20 votos a favor, enquanto 75 foram contrários.
Para evitar que o confronto se alongasse, Côrtes bloqueou o grupo “Deputados do PL 57º” (referência à 57ª Legislatura). Na tarde de segunda-feira, contudo, ele liberou novamente o envio das mensagens, e houve algumas horas com relativa paz. Durante as discussões, alguns quadros do partido se destacaram na animosidade.

Saiba quem são os principais envolvidos no barraco do WhatsApp do PL:

Vinícius Gurgel (AP)

Deputado federal pelo Amapá em seu quarto mandato, Gurgel foi o responsável por publicar o comentário que incitou o começo da discussão, ao reclamar de “extremistas” no grupo por terem criticado correligionários que votaram a favor da Reforma Tributária. Em março, a PGR pediu ao STF a quebra de sigilo bancário do parlamentar no âmbito de inquérito que apura supostos crimes de corrupção pasiba e lavagem de dinheiro pelo parlamentar.

Julia Zanatta (SC)

Uma das críticas a Gurgel, a deputada Julia Zanatta, parlamentar de primeiro mandato, questionoou o deputado, em uma mensagem no grupo: “Não sei por que tanto choro. Se tinham tanta certeza do voto, por que estão se explicando até agora?”.
Em março, logo no começo do ano legislativo, ela acusou o colega Márcio Jerry (PCdoB-MA) de assédio dentro do plenário, momento em que ele teria cheirado seu pescoço. Em abril, Zanatta fez uma publicação com uma arma de fogo e uma blusa fazendo apologia à morte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Carlos Jordy (RJ)

Líder da oposição na Câmara, o deputado Carlos Jordy usou o grupo, durante o barraco, para encorajar a saída de quadros que discortassem da posição de que o PL segue um caminho de “consolidar-se como o maior partido conservador, de direita, de oposição no Brasil”. Na linha dura do bolsonarismo, Jordy esteve ao lado do ex-presidente em todas as agendas de campanha no Rio, seu reduto eleitoral. Na Câmara, ele assinou pedido de impeachment de Lula e tem apoio do governador Cláudio Castro (PL) para concorrer pela prefeitura de Niterói em 2024.

Júnior Amaral (MG)

No segundo mandato como deputado federal, Júnior Amaral também criticou Gurgel: “Fica parecendo que nós, Bolsonaristas, somos otários para acreditar que se trata de um posicionamento verdadeiro a favor do texto”. Amaral esteve envolvido em polêmicas ainda na última legislatura, quando teve sua conta no Twitter suspensa, em dezembro passado, por ter publicado conteúdo desinformativo sobre as urnas eletrônicas.

André Fernandes (CE)

Na tropa de choque do Bolsonarismo, o deputado André Fernandes confrontou Gurgel durante o barraco, afirmando que não seria seu amigo e que, se não gostasse da postura dos colegas, poderia “pedir para sair” da legenda. Ele chegou a ser investigado por publicações de cunho golpista sobre os atos do 8 de janeiro. Em maio, a Polícia Federal identificou que ele teria incitado um atentado contra o Estado Democrático de Direito. A PGR, porém, pediu o arquivamento por entender que não se tratava de um crime.

Só cinco deputados da bancada pernambucana votaram contra Reforma Tributária. Saiba como foi

Clarissa Tércio, Fernando Rodolfo, Coronel Meira, André Ferreira e Pastor Eurico


Foto: Reprodução

Seguindo as diretrizes do ex-presidente Jair Bolsonaro, os deputados pernambucanos com DNA bolsonarista, todos do Partido Liberal (PL), legenda atual do ex-mandátario do Brasil, votaram contra as mudanças no sistema de tributação proposta pelo Governo Lula na Reforma Tributária.
Fiéis a ideologia de Bolsonaro, da bancada pernambucana na Câmara, votaram contra o texto da Reforma Tributária os deputados Clarissa Tércio, Fernando Rodolfo, Coronel Meira, André Ferreira e Pastor Eurico.
No lado oposto, os demais representantes da bancada pernambucana formaram maioria para votar a favor das mudanças sugeridas pelo Governo Lula. Foram eles: Augusto Coutinho (Republicanos), Carlos Veras (PT), Clodoaldo Magalhães (PV), Eduardo da Fonte (PP), Eriberto Medeiros (PSB), Felipe Carreras (PSB), Fernando Coelho (União Brasil), Fernando Monteiro (PP), Guilherme Uchôa (PSB), Iza Arruda (MDB), Lucas Ramos (PSB), Luciano Bivar (União Brasil), Lula da Fonte (PP), Maria Arraes (Solidariedade), Mendonça Filho (União Brasil), Pedro Campos (PSB), Renildo Calheiros (PCdoB), Silvio Costa Filho (Republicanos), Túlio Gadelha (Rede) e Waldemar Oliveira (Avante).
Nacionalmente, apesar da tentativa de Bolsonaro convencer os 99 representantes da sua legenda a votarem contra à Reforma, 20 votos para aprovação em segundo turno do texto da Reforma Tributária, na última quinta-feira (6), vieram de deputados do PL.
Desconsiderando os benefícios que a atualização das regras do complexo sistema tributário vai trazer para o desenvolvimento econômico, na prática, o objetivo de Bolsonaro era ao conseguir adesão da maioria do PL, impor a primeira grande derrota ao Governo Lula na Câmara.
Com a vitória em segundo turno na Câmara dos Deputados, embora o texto enviado pelo Governo ainda deva sofrer inúmeras modificações, o que Bolsonaro conseguiu, de fato, foi além de tumultuar o processo, criar atrito interno em seu partido, em especial, com seu antigo aliado, o prefeito de São Paulo, Tarcísio Freitas, que desde o início foi favorável às mudanças sugeridas na PEC.
Para tentar remediar esse mal-estar causado por Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a entrar em cena. Disse, ontem, que ligou para o ex-presidente Jair Bolsonaro para explicar que a reforma aprovada era do Brasil e não de um governo.
“Eu liguei para ele [Bolsonaro], sem fazer juízo de valor ou pedindo posicionamento, falei que essa reforma nasceu no governo dele, foi tocada dentro do Congresso Nacional, e que essa reforma era do Brasil. Falei a ele que o governador Tarcísio foi muito correto com o tratamento da PEC e que é um amigo que precisa, acima de tudo, ser preservado”, disse.

Magno Martins/FP

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Perfil mais conservador do Congresso pode impactar pautas feministas

É o que aponta estudo do Centro Feminista de Estudos e Assessoria

Congresso Nacional
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom
Parlamentares da nova legislatura têm um posicionamento mais conservador em relação a pautas relacionadas ao movimento feminista. É o que aponta o estudo Perfil Parlamentar (2023-2026) Sob a Ótica da Agenda Feminista, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), com base em análises dos conteúdos das redes sociais dos 513 deputados federais e dos 81 senadores (incluindo os eleitos em 2022). O Cfemea considerou somente as publicações feitas no período oficial de campanha eleitoral de 2022 (16 de agosto a 30 de outubro), em sites dos parlamentares e no Facebook, Instagram, Twitter e YouTube.
O estudo
Por meio de 34 perguntas iguais para todos, o estudo avaliou se houve posicionamento sobre seis temas considerados relevantes para a agenda feminista: Direitos sexuais e direitos reprodutivos; Violência contra a mulher; Concepção de família; Posicionamento sobre o cuidado (por exemplo, divisão do trabalho intrafamiliar); Religião (entre os pontos observados: o Estado laico); Posições antigênero (como direitos LGBTQIA+).
A pesquisa constatou que os perfis dos parlamentares estão separados em cinco grupos ideológicos. E cada pessoa pode integrar mais de um grupo, conforme afinidades. São eles: armamentista (pouco mais de 10% do Congresso Nacional); religioso (aproximadamente 20%); de costumes/defensores da família tradicional (aproximadamente um quarto); feminista (aproximadamente 20%); conservadores (mais de 40%).
A coordenadora da pesquisa e doutora em ciência política, com pós-doutorado em estudos feministas interseccionais pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora em gênero, mídia e política, Denise Mantovani, em entrevista à Agência Brasil, comentou os resultados da pesquisa: “A gente tem desde o aspecto do impacto das redes sociais e dos discursos de ódio propagados. A gente está vendo que muitas dessas candidaturas se elegeram às custas de muita fake news.” E detalha alguns perfis: “No estudo, a gente percebeu que existem partidos que efetivamente concentram as posições da extrema direita, neoconservadoras, religiosas fundamentalistas.”
No entanto, Denise aponta convergência em alguns temas. “Existem parlamentares que podem ser aliados pontuais em determinados assuntos com os quais eles dialogam com os direitos das mulheres”. Ela destaca o combate à violência contra mulher. “Em uma situação em que eles sejam convidados a apoiar uma legislação que ajude a prevenir, enfrentar e combater a violência doméstica contra as mulheres, a violência sexual, o estupro, acho que existem possibilidades de arranjos com parlamentares de vários partidos para compor uma aliança com a bancada feminista e antirracista que está atuando na defesa e dos direitos das mulheres, em toda diversidade que essa palavra representa.”
Composição do novo Congresso
As mulheres representam 52,62% do eleitorado brasileiro, de acordo com a Justiça Eleitoral. Apesar de as mulheres serem a maioria, não há reflexo na composição do Congresso Nacional. O estudo do Cfemea confirmou que falta equidade de gênero e raça na representação política. Na Câmara dos Deputados, as mulheres representam 17,7% das cadeiras, com 91 deputadas. Com o resultado das urnas, foi mantida a hegemonia masculina (82,3%). A maioria dos deputados e deputadas eleitos é branca (72%). Em seguida, vêm os pardos (21%), pretos (5%), indígenas (0,9%) e amarelos (0,58%). No Senado, são apenas 15 mulheres entre 81 senadores, sendo que quatro delas são suplentes de senadores que ocupam cargos no governo federal.
Além da representação feminina ser baixa na Câmara e no Senado, as mulheres também estão longe dos principais postos de comando, como as presidências das duas casas legislativas, assentos nas mesas diretoras e nas comissões.
A senadora Zenaide Maia (PSD-RN) cita os principais desafios para os próximos anos. “O primeiro deles é o envolvimento de todos os parlamentares – mulheres e homens – nesse debate. Estamos tratando do interesse de mais da metade da população brasileira, sendo que a outra metade também se beneficiará com o avanço civilizatório que é promovido a partir das conquistas das mulheres.”
Principais achados do estudo
O estudo do Cfemea mostra que, na Câmara, a maioria dos deputados (56,73%) não mencionou o aborto e a proteção às vítimas de estupro/violência sexual em suas postagens.
Já os 16 deputados e deputadas (3,12% dos eleitos) que se declararam favoráveis ao aborto são majoritariamente de legendas progressistas, de esquerda.
Mais de 320 parlamentares (63% das cadeiras da Casa) declararam diretamente ou fizeram menções a símbolos religiosos em mais de uma postagem no período eleitoral. E 89 deputados se manifestaram abertamente contra a ideia de que “religião e política não devem se misturar”.
No Senado Federal, dos 81 parlamentares, 45 (56%) declararam vínculo com alguma religião. E nenhum senador se posicionou favoravelmente, nas redes sociais, ao direito de interrupção da gravidez.
Sobre as composições familiares, 82 deputados (16%) identificados com o conservadorismo defenderam a chamada “família tradicional”, quando apresentaram suas candidaturas. E 11 deputados vinculam o cuidado com os filhos como uma atribuição das mulheres somente, sem mencionar qualquer divisão de cuidados.
Outro aspecto destacado na pesquisa é a baixa menção ao machismo (59 deputados ou 11,5% do total da Câmara) como um problema estrutural relacionado à violência contra as mulheres.
O estudo completo Perfil Parlamentar (2023-2026) Sob a Ótica da Agenda Feminista pode ser acessado aqui.
Desafios do novo Parlamento
No estudo, o Cfemea avalia que a realidade da política brasileira, “com a presença neoconservadora e da extrema direita no parlamento brasileiro, demostra quase nenhuma ou pouca afinidade com as pautas relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos, assim como os pilares democráticos”.
Na Câmara, na última legislatura, foram abordadas pautas como a defesa do não nascido e o direito à vida deste, com Estatuto do Nascituro; a dita proteção de crianças contra o ativismo LGBTQIA+ e a regulamentação do homeschooling.
Em seu segundo mandato, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) avalia como serão os trabalhos com a nova Câmara mais conservadora. “Essas novas lideranças femininas na política vão tentar levar o debate como se aquelas que lutam pelo direito das mulheres fossem suas inimigas. Mas, acho difícil que consigam retroceder concretamente nas leis brasileiras no que diz respeito às mulheres, porque existe muita força social para que o Brasil não admita retrocessos na pauta. Eu confio muito no poder de mobilização das mulheres brasileiras.”
Para a deputada, a aprovação de projetos de lei prioritários ao movimento feminista passa também pela articulação do atual governo federal, considerado mais progressista. “Os direitos das mulheres têm que estar presentes. Se depender só da composição do Congresso, se não houver um esforço que venha também do Executivo, de fato, a gente pode ter dificuldade de avanços em temas que não precisam nem ser tão polêmicos, mas que são necessários para o Brasil, como a igualdade salarial, ou mesmo, outras medidas de enfrentamento ao machismo.”
Futuro dos direitos das mulheres
No estudo, o Cfemea calcula que apenas um quinto do Congresso Nacional vai continuar a defender pautas feministas como “o combate às violências por razões de gênero, a diversidade das composições de família, o direito ao aborto legal e seguro e a laicidade do Estado”.
A senadora Zenaide Maia (PSD-RN) disse à Agência Brasil que tem a expectativa de que “a ideologia não impeça o avanço dos direitos das mulheres.” Ela elenca pautas prioritárias: “Precisamos cobrar da Câmara a votação do projeto da igualdade salarial entre homens e mulheres que desempenham a mesma função na mesma empresa [PLC 130, de 2011]. Outra: é preciso garantir a recomposição do orçamento de proteção à mulher. O governo anterior não aplicou R$ 1 na Casa da Mulher Brasileira, no ano passado, e reduziu a quase zero os recursos das políticas públicas de acolhimento e combate à violência contra a mulher.”
No Senado também é preciso construir acordos com diferentes bancadas, avalia o senador Paulo Paim (PT-RS), em entrevista à Agência Brasil. “O momento é de união, de conscientização e de reconstrução do Brasil. O diálogo com todos é o caminho para aprovação de matérias tão importantes.” Ele cita o que já vem sendo feito: “O Senado Federal conta com a Procuradoria da Mulher, liderada pela senadora Leila Barros [PDT-DF]. Temos ainda a Comissão de Direitos Humanos, que sempre defendeu essa causa e é um espaço que acolhe e dá voz às mulheres. A bancada feminina ainda é pequena, contudo, as senadoras são extremamente aguerridas e realizam um belo trabalho com os parlamentares homens comprometidos com a temática.”
Mulheres do Brasil e do mundo na política
Pela primeira vez, em 2023, as mulheres estão em todos os parlamentos do mundo, de acordo com o último relatório anual da União Interparlamentar, organização global que reúne 193 países. O relatório global mostra que, em 2023, as mulheres ocupavam, em média, 26,5% dos assentos dos parlamentos pelo mundo. Mas, no Brasil, apesar do aumento de 18,2%, no número de deputadas na última eleição (2022), os 17,7% das vagas ocupadas por mulheres na Câmara ainda apontam uma sub-representação feminina no Parlamento, em relação aos dados mundiais.
A legislação eleitoral brasileira traz incentivos à participação das mulheres na política. Os partidos políticos devem indicar 30% de mulheres aos cargos eletivos, além de destinar, no mínimo, 30% dos recursos públicos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha – mais conhecido como Fundo Eleitoral – para apoiar candidaturas femininas. Os partidos também devem reservar pelo menos 30% do tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão às campanhas de mulheres. Contudo, os estímulos não foram suficientes.
A ONU Mulheres, criada em 2010, incentiva a participação efetiva das mulheres na vida política, em todo o planeta. Em entrevista à Agência Brasil, a analista de Programas da ONU Mulheres – Brasil, Ana Claudia Pereira, defendeu a liderança plena das mulheres na política para construção de uma sociedade mais justa e igualitária. “É uma questão de garantia dos direitos políticos das mulheres de participarem da vida pública em condições de igualdade, em relação aos homens. Por outro lado, é um tema também de desenvolvimento, porque a presença das mulheres, de mais da metade da população, de uma forma mais significativa nas instâncias decisórias, inclusive, no Congresso Nacional, leva a decisões que contemplam essa metade da população de uma forma mais eficiente. O que permite que a gente supere dificuldades do próprio desenvolvimento socioeconômico do país.”
No país, a ONU Mulheres – Brasil tem atuado em conjunto com as parlamentares da bancada feminina. “A gente atua tanto oferecendo insumos, assessoria técnica, informações, dados, quanto apoiando e advogando publicamente por temas que são de grande relevância, como o enfrentamento da violência política de gênero”, conta Ana Claudia Pereira. “A ONU Mulheres soma esforços para que esses temas e outros ganhem visibilidade também e que seja possível conhecer experiências de outros países ou até dados do próprio contexto brasileiro.”
Ana Claudia conta como será a agenda de trabalhos com a legislatura recém-iniciada. ”Continuaremos tendo essa mesma abordagem. Esperamos que tenha uma agenda de trabalho consistente e bem articulada no tema de ações para promover e garantir os direitos humanos das mulheres”.
Representação de todas as mulheres no Parlamento
Do total de 91 deputadas brasileiras, foram eleitas nove mulheres negras e quatro indígenas: Sônia Guajajara (PSOL-SP), que ministra dos Povos Indígenas; Célia Xakriabá (PSOL-MG), Juliana Cardoso (PT-SP) e Silvia Waiãpi (PL-AP). E, pela primeira vez na história, a Câmara dos Deputados tem em sua bancada feminina duas deputadas trans: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).
O estudo do Cfemea destaca a necessidade de o Parlamento brasileiro se aproximar das agendas feministas e antirracistas. O centro feminista se preocupa com a apresentação de propostas que “podem fortalecer as violências por razões de gênero e raça”.
A analista de Programas da ONU Mulheres – Brasil, Ana Claudia Pereira, chama a atenção, particularmente, para grupos de mulheres que nem sempre são contemplados pelas políticas. “Estamos falando das mulheres negras, indígenas, lésbicas, bissexuais, transexuais e, também, mulheres com deficiência. Esses são grupos que, historicamente, enfrentam barreiras no acesso às políticas públicas e a direitos para os quais as casas legislativas podem, realmente, aportar muitas medidas, escutá-las.”
Para a senadora Zenaide Maia, a falta de projetos e políticas públicas voltadas aos direitos das mulheres “são o retrocesso civilizatório e o empobrecimento da base da sociedade, que é formada em sua maioria por mulheres negras”. “São essas mulheres as mais afetadas pelas crises econômicas, pelas pandemias, pela violência doméstica e outros problemas sérios da nossa sociedade, que é estruturalmente machista e racista”, observa.
O senador Paim acredita que “todas as pautas que tramitam no Congresso Nacional impactam diretamente e indiretamente as mulheres, principalmente, as mulheres negras, que são invisibilizadas pelas políticas públicas”. “As mulheres precisam estar onde elas quiserem, para o Brasil avançar de fato e de direito”, finaliza o parlamentar negro.
Agência Brasil