Médicos da Santa Casa de Misericórdia enfrentam atraso de três meses nos salários

Entidade alega repasses pendentes do governo de Pernambuco como motivo da dificuldade financeira crônica

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Médicos contratados pela Santa Casa de Misericórdia do Recife denunciam a falta de pagamento de salários há três meses. Esses profissionais, que atuam no Hospital Santo Amaro (HSA), no centro da capital pernambucana, estão enfrentando atrasos nos pagamentos devido à situação financeira da entidade.

De acordo com um médico da instituição, que preferiu não se identificar, cerca de 65 profissionais estão nessa situação. Ele relata que, ao longo dos seus quase dez anos de trabalho na Santa Casa, essa é a primeira vez que enfrenta um período tão longo de atraso salarial, que costumava ser de no máximo 15 dias. Para buscar uma solução, a categoria criou um grupo de trabalho.

Até o momento, a entidade não forneceu uma explicação oficial nem apresentou um cronograma de pagamento. A administração da Santa Casa informou que o governo do Estado possui uma verba provisionada, mas ainda não a liberou.

Apesar da dificuldade, os médicos não desejam interromper suas atividades nem reduzir o atendimento à população. No entanto, trabalhar nessas condições, sem receber salários por tanto tempo e sem previsão de pagamento, tornou-se insustentável.

A Santa Casa de Misericórdia do Recife, por meio de sua coordenação de comunicação, enviou uma nota ao Jornal do Commercio, ressaltando a dificuldade financeira crônica enfrentada pela instituição. Segundo a nota, essa situação prejudica não apenas a manutenção das atividades, mas também os pagamentos aos colaboradores, prestadores de serviço e fornecedores.

O HSA desempenha um papel importante como apoio ao Hospital Getúlio Vargas, localizado no Cordeiro, zona oeste do Recife, que possui uma alta demanda na área de traumatologia e ortopedia.

A nota da Santa Casa destaca que as instituições filantrópicas, como as Santas Casas e os hospitais, enfrentam defasagem na tabela de pagamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), que não é reajustada há quase 20 anos. Essa defasagem resulta em dificuldades financeiras crônicas que afetam não apenas a manutenção das atividades, mas também os pagamentos aos colaboradores, prestadores de serviço e fornecedores.

A assessoria de comunicação da Santa Casa esclareceu que a instituição mantém contratos com as Secretarias de Saúde do Recife e de Pernambuco. Embora haja repasses pendentes da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), a entidade afirma que esse não é o único motivo que impede o pagamento integral dos médicos. A defasagem na tabela do SUS e o déficit orçamentário enfrentado por todos os hospitais filantrópicos do país também foram mencionados como fatores contribuintes.

A Santa Casa informou que está trabalhando para realizar o pagamento dos valores pendentes aos médicos e reconhece que alguns profissionais não receberam os salários de abril e maio deste ano. A direção da entidade convocou representantes do corpo clínico para uma reunião, a fim de prestar esclarecimentos sobre a situação.

A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), em nota, informou que o pagamento pendente se refere a uma nota fiscal de fevereiro, relacionada a procedimentos cirúrgicos, que foi enviada recentemente à SES-PE, em 24 de junho. A pasta também mencionou que há débitos da gestão anterior, que estão sendo discutidos no processo de regularização contratual em andamento. Segundo a SES-PE, os honorários dos médicos da Santa Casa são pagos com base nos procedimentos cirúrgicos realizados por eles em pacientes do SUS, atendidos pelo hospital. Vale ressaltar que não há relação salarial entre esses médicos e a SES-PE, uma vez que a unidade não faz parte da rede estadual de saúde.

Diante dessa situação, os médicos da Santa Casa de Misericórdia do Recife continuam aguardando o pagamento dos salários em atraso, enquanto a entidade e o governo de Pernambuco buscam soluções para a dificuldade financeira enfrentada. A espera pela regularização dos pagamentos coloca em evidência os desafios enfrentados pelas instituições de saúde filantrópicas diante das limitações financeiras e da defasagem dos repasses do SUS, afetando tanto os profissionais quanto o atendimento à população.